Toda nova edição do Rock in Rio gera a mesma reclamação “cadê o Rock?”. A grade do festival sempre foi eclética, desde o seu nascimento em 1985. Mas havia um certo equilíbrio. Na primeira edição história, estavam lá Elba Ramalho, Gilberto Gil, entre muitos outros nomes da música pop brasileira dividindo o palco com ACDC, Iron Maiden, Whitesnake e outros ícones do Rock. Resumindo, o Rock in Rio nunca foi um festival dedicado apenas ao Rock. Ele é um festival de música. Nesse artigo, você vai entender por que o Rock, de fato, está cada vez menos presente no festival.
Em primeiro lugar, vamos lembrar o que é Rock. Rock significa “mexer”. Era uma gíria dos negros americanos presente em várias canções de Blues e Rhythm´n Blues, como Rock me Baby, Rock Me e por aí vai. A partir dos anos 50 a gíria passou a ser usada para designar a música jovem. Então, vejam que até então não existia um ritmo de fato chamado Rock´n Roll. Isso só foi acontecer um pouco mais tarde, quando se criou uma batida diferente chamada popularmente de “martelada”, cuja principal característica é a pulsação vigorosa e o tempo 4/4. Esse ritmo alcançou as paradas de sucesso graças a nomes como Chuck Berry e Little Richards. Assim, nascia de fato o ritmo Rock. Então um festival que leva Rock no seu nome, não necessariamente precisa ser um festival do ritmo Rock.
O Rock in Rio nasceu para ser um festival de música jovem. Entretanto o termo Rock está envelhecendo assim como acontece com todos os modismos. Rock hoje já não é associado mais com música jovem, muito pelo contrário. O ritmo Rock hoje é considerado coisa de velho. Portanto, a marca Rock in Rio tem prazo de validade e o tempo dela está acabando.
Mas, o ritmo Rock continua tendo adeptos? Claro que sim, e provavelmente continuará tendo sempre, assim como a música clássica, o samba, a bossa nova, o reggae, etc… Todo estilo de música é eterno e gera paixão. A pulsação, a magia, a energia, o estilo ainda farão pessoas se apaixonarem pelo Rock no futuro. Daqui há 50 anos muita gente ainda vai ficar encantada com a música dos Beatles, do Led Zeppelin ou qualquer outro ícone da história do Rock. Mas, o fato é que o ritmo Rock na sua essência será algo do passado.
O mundo nunca mais verá um fenômeno musical como foi o Rock na segunda metade do século XX. Foi uma época mágica que será lembrada e contada por quem viveu. Isso explica uma parte da questão “por que o Rock in Rio tem cada vez menos Rock”. Mas não explica tudo. O principal mesmo é a questão financeira.
Desde a virada do milênio as atrações de Rock já não são as mais as principais head liners do festival. Os dias com bandas e ídolos do velho e bom Rock´n Roll estão ficando com ingressos encalhados enquanto as outras atrações pop têm ingressos esgotados rapidamente. Esse ano está acontecendo isso. A noite com o dinossauro Deep Purple quase não está tendo procura. Há 40 anos seria um ingresso disputado a tapas, mas hoje está encalhado.
Mas, isso é um sinal pra você abandonar a música e os ídolos que ama? Claro que não. Como dissemos no início do artigo, o Rock é eterno e sempre irá gerar paixão por quem é tocado pela sua energia e emoção incomparáveis. Tanto as novas gerações, que não viveram a sua época de ouro, quanto os mais velhos que se mantém fieis aos seus gostos musicais, continuarão se emocionando e levantando as mãos com dois dedos esticados quando alguém gritar “Rock´n Roll”.