You are currently viewing O motor Charlie Watts

O motor Charlie Watts

Compartilhar

Uma justa homenagem a quem por mais de 50 anos deu ritmo aos Rolling Stones

Por Átila Santos

“Com os Stones, são cinco anos tocando e 20 viajando, rodando por aí…”

Charlie Watts

Esta é apenas uma das “tiradas” geniais – e bem típicas daquele humor inglês – desse batera tímido, sem firulas nem “papagaiadas”, eficiente – ele era mesmo um “reloginho” -, minimalista (poucos tambores, poucos pratos em sua batera), confiável…

Assim como aconteceu com o The Who, que, em 1978, perdeu Keith Moon, e com o Led Zeppelin, que, em 1980, ficou pra sempre sem John Bonham, é lógico que os Rolling Stones nunca mais serão os mesmos…

Artista gráfico (foi ele que criou a capa do álbum “Behind the buttons”, de 1967), o “jazzista” – ele amava isto e tocou com diversas “big bands” – Charlie Watts ganhou sua primeira bateria aos 13 anos (foi um presente dos pais dele), se juntou aos Stones em 1963 (um ano depois de a banda ser formada, substituindo o “dono das baquetas” original, Tony Chapman, que havia deixado o grupo), nunca mais saiu das “Pedras Rolantes” e participou dos 30 álbuns de estúdio da turma de Mick Jagger, Keith Richards & Cia.

Discreto, Watts era o contraponto de toda aquela “porra-louquice” dos Stones… Tanto que, diferentemente de seus companheiros de banda, ele se casou uma única vez: isto aconteceu em 1964, com Shirley Ann Shepard, durou 57 anos e “produziu” uma filha (Seraphina, que nasceu em 1968)…

Em meados da década de 1980, teve sérios problemas com álcool e drogas, e considerou este deslize, esta “derrapagem” uma crise de meia-idade…

Elegante, Watts é protagonista de uma das histórias mais emblemáticas e divertidas do bom e velho “roquenrol”… Quem conta é um de seus companheiros nos Stones, o guitarrista Keith Richards, em sua biografia: “Após um show, Mick resolveu fazer uma festinha particular no hotel onde estávamos hospedados… Charlie ficou em seu quarto, mas Mick, bem chapado, ligou pra ele e disparou ‘Onde está a porra do meu baterista?!’ Charlie desligou, vestiu seu melhor terno, desceu até o salão e… deu um murro na cara de Mick… Depois disse ‘Eu não sou seu baterista, você é que é a porra do meu vocalista!’ Em seguida, subiu de novo. Assim era Charlie…”

Em 2004, Watts superou um câncer na garganta e, no início deste mês, depois de se submeter a uma cirurgia de emergência – não especificada na época, assim como a causa da morte dele, neste 24 de agosto, aos 80 anos -, foi obrigado a abandonar a turnê dos Stones pelos EUA e substituído por Steve Jordan…

E, talvez, quem melhor definiu Charlie Watts e sua precisão e eficiência tenha sido Keith Richards: “Ele era o motor. E não vamos a lugar algum sem um motor.”

*Atila Santos é jornalista e músico. É baterista da Experience Rock Band, uma das bandas oficiais do Rock Experience. Foi produtor musical da casa de 2018 a 2020 e, claro, fã incondicional dos Beatles e de Ringo Starr.